MARÇO 31.
Hipócrates: observação cuidadosa e pesquisa dos fenômenos da doença
HIPÓCRATES
Hippocrates
(nasceu
cerca do ano 460 antes da nossa era, na ilha de Kos, na Grécia; morreu em 377, na
Larissa, Tessália, na Grécia)
MAIOR
MÉDICO DA GRÉCIA ANTIGA, O PAI DA MEDICINA
AS
BASES DA CIÊNCIA
Os gregos
antigos tiveram grandes filósofos até a obra de Aristóteles. Depois dele, os
pensadores passaram ao estudo das ciências particulares. A filosofia ficou sem
maior desenvolvimento.
Todos os
conhecimentos da época foram registrados pela descrição dos fatos da vida
diária. Anotaram os conflitos políticos, as paixões humanas, a estrutura e as
doenças do corpo humano, todos os fatos que a sua volta ocorriam na
agricultura,à navegação e às outras artes. Mas o que tornou célebres os gregos
antigos foi que descobriram o estudo abstrato dos fenômenos dos seres, pelo
estudo de suas propriedades, dos acontecimentos, das ocorrências.
O início
do estudo ABSTRATO foi realizado pela primeira vez no mundo pelos gregos.
Outros, como os egípcios, já tinham feito a medição dos campos, dos terrenos e
já tinham calculado as dimensões da pedras para a construção de seus templos.
Mas só com Tales e aqueles que o sucederam os gregos tiveram o mérito de, por
meio e sua imaginação, retirar, por abstração, as linhas e os ângulos que
formam os objetos. Linhas e ângulos são propriedades percebidas pelos sentidos,
não são objetos físicos que existam ou bens que se possam minerar ou cultivar
na natureza ou produtos obtidos por fabricação.
A função
cerebral da abstração é a forma mais complexa da capacidade da inteligência
humana. Envolve a observação dos fenômenos ou acontecimentos e sua elaboração
mental abstrata. O progresso da ciência em todos os tempos se acelera com
aplicação da pesquisa abstrata. O psicólogo Jean Piaget(1896-1980) confirmou
experimentalmente que as crianças só conseguem pensar abstratamente após cerca
da idade de sete anos.
O
filósofo francês Auguste Comte já tinha identificado o mesmo nos povos
primitivos e nas crianças. Somente quando os povos evoluem da feitiçaria ou
feiticismo, da magia ou animismo é que conseguem pensar no politeísmo em
deuses, que são conceitos abstratos, dotados de propriedades superiores, de
enorme poder. Se assim é, somente povos politeístas poderiam chegar a
desenvolver a abstração científica. Os politeístas da Teocracia Oriental,
embora capazes de criar seus deuses abstratos, não conseguiram criar a ciência
abstrata talvez por ser a casta sacerdotal secreta um poder político
totalitário impedindo a iniciativa da livre pesquisa dos pensadores laicos.
A
primeira semana do mês de Arquimedes consagra os sábios que pesquisaram a
medicina e os conhecimentos biológicos preliminares que resultaram dessas
pesquisas. A presidência da semana é de Hipócrates. Ali figuram os nomes dos principais
anatomistas da universidade de Alexandria no Egito e daqueles entre os autores
árabes que escreveram sobre medicina.
Ver o
Quadro 0325 01 B do mês de Arquimedes
Ciência Antiga.
O quadro mostra os grandes homens representantes da criação dos fundamentos do
conhecimento biológico na antiguidade.
NOSSOS ANTEPASSADOS INESQUECÍVEIS
Maiores figuras humanas na antiguidade
que prepararam a civilização do futuro.
FELIZ
QUEM HONRA SEUS ANTEPASSADOS
HIPÓCRATES nasceu na ilha de Kos, uma das Esporades, perto da
costa da Carie, na Grécia. Ele pertencia a uma família cujos membros praticavam
a arte médica durante várias gerações, como sacerdotes do deus Asclepios.
Viajou muito e residiu algum tempo na corte do rei Perdiccas da Macedônia. Seu
avô tinha também o nome de Hipócrates e também vários de seus descendentes.
Essa é a razão por atribuir a ele muitas obras que não são de sua autoria. Mas
o julgamento unânime dos estudiosos lhe dá merecida fama.
Na Grécia, como em todos os lugares, a medicina teve uma origem
religiosa. Uma casta de sacerdotes-médicos que descendiam de um herói da lenda
ou de um deus Asclepios, em
latim Esculapius , estava espalhada nas ilhas e no continente
grego durante os séculos que vão entre Homero e Ésquilo. Os templos de
Esculápio eram os hospitais da Grécia. Áreas especiais serviam ao parto das
mulheres grávidas e de lugar para o tratamento dos doentes. O tratamento
consistia no uso de remédios físicos e morais. Poções simples para ação sobre a
pele e músculos eram combinados com o jejum e a oração. Nas religiões os
médicos eram os sacerdotes, como os curandeiros da feitiçaria.
Herdeiro duma grande massa de conhecimentos teocráticos antigos,
Hipócrates foi levado a empregar o novo espírito positivo que, depois de um
século, impregnou todo o mundo grego: o espírito de observação sem preconceitos
e de pesquisa exata das leis naturais e dos fatos gerais aplicados aos
fenômenos da doença. É significativo que ele renegue a doutrina de que uma
certa doença seja especialmente de origem divina. Ele afirma que nenhuma é mais
divina que a outra. Todas o são e todas são sujeitas à sua própria lei de
desenvolvimento.
A glória de Hipócrates foi escapar do círculo vicioso da falta de
uma teoria para guiar a pesquisa que deve gerar a teoria. Ele seguiu uma longa
série de observações delicadas e bem conduzidas, guiadas por duas idéias
profundamente positivas: a sinergia ou concurso das funções e a ação do meio
sobre o organismo.
Hipócrates procurava estabelecer a prognose, isto é, uma previsão do curso que a doença sempre
acontece. O seu Tratado do prognóstico
mostra essa intenção de prever para agir. O médico, diz ele, que prevê o
caminho da doença a partir da condição presente do doente dirige melhor a cura
e esse praticante merece confiança. Essa confiança era de uma importância
fundamental, porque, de acordo com o primeiro de seus aforismas, “Não é suficiente ao médico fazer o que ele
julga bom, é necessário que ele o faça de modo que o paciente, o enfermeiro e
todas as circunstâncias ambientes possam colaborar com ele”.
Todo esse livro protesta contra o excesso de especialismo. Ele
coloca a prognose antes do diagnóstico. É de grande importância de
ter presente ao espírito de unidade essencial da doença, de medir sua
intensidade, de ter em conta a constituição pessoal e as circunstâncias
ambientes. Foi o que Hipócrates ensinou aos médicos.
Hipócrates deixou uma obra-prima sobre o meio ambiente: seu Tratado do ar, da água e dos lugares. É
um estudo do clima no sentido mais extenso, contendo um conjunto de
considerável de belas e sábias observações sobre o ar e os ventos dominantes,
sobre a luz do sol, água, solo; sobre a influência das estações e da vegetação
dominante. Contém observações sobre as tendências físicas dos diferentes povos
da Europa e da Ásia, que uma vez formadas por essas influências, se perpetuam
por hereditariedade.
Os livros atribuídos a Hipócrates são os Aforismas, os Prognósticos,
Epidêmicas, Do regime na doença aguda, o tratado sobre O ar, a água e os lugares
e um livro sobre os Ferimentos na cabeça.
Quanto ao Juramento Hipocrático exigido a todos os membros
do corpo médico, há consenso em lhe atribuir a autoria. Para ser admitido o
candidato jurava por Apolo e por Esculápio de dar um respeito filial a seu
mestre; de dividir seu saber com seus companheiros; de ter na casa do doente
uma conduta irrepreensível e de jamais divulgar um segredo.
Hipócrates, por sua ampla concepção dos fenômenos mórbidos, não só
fundou a arte médica, então livrando-a dos obstáculos religiosos teocráticos e
destinando-a para ter um papel tão importante na civilização ocidental. Além
disso, preparou o caminho para o estudo científico da vida que logo seria
fundado por Aristóteles e continuado pela grande escola de Alexandria em sua Biblioteca.
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