quarta-feira, 30 de março de 2016

0331 B HIPÓCRATES a sinergia das funções e a ação do meio sobre o organismo

MARÇO 31. Hipócrates: observação cuidadosa e pesquisa dos fenômenos da doença

HIPÓCRATES
Hippocrates
(nasceu cerca do ano 460 antes da nossa era, na ilha de Kos, na Grécia; morreu em 377, na Larissa, Tessália, na Grécia)

MAIOR MÉDICO DA GRÉCIA ANTIGA, O PAI DA MEDICINA

AS BASES DA CIÊNCIA

Os gregos antigos tiveram grandes filósofos até a obra de Aristóteles. Depois dele, os pensadores passaram ao estudo das ciências particulares. A filosofia ficou sem maior desenvolvimento.
Todos os conhecimentos da época foram registrados pela descrição dos fatos da vida diária. Anotaram os conflitos políticos, as paixões humanas, a estrutura e as doenças do corpo humano, todos os fatos que a sua volta ocorriam na agricultura,à navegação e às outras artes. Mas o que tornou célebres os gregos antigos foi que descobriram o estudo abstrato dos fenômenos dos seres, pelo estudo de suas propriedades, dos acontecimentos, das ocorrências.
O início do estudo ABSTRATO foi realizado pela primeira vez no mundo pelos gregos. Outros, como os egípcios, já tinham feito a medição dos campos, dos terrenos e já tinham calculado as dimensões da pedras para a construção de seus templos. Mas só com Tales e aqueles que o sucederam os gregos tiveram o mérito de, por meio e sua imaginação, retirar, por abstração, as linhas e os ângulos que formam os objetos. Linhas e ângulos são propriedades percebidas pelos sentidos, não são objetos físicos que existam ou bens que se possam minerar ou cultivar na natureza ou produtos obtidos por fabricação.
A função cerebral da abstração é a forma mais complexa da capacidade da inteligência humana. Envolve a observação dos fenômenos ou acontecimentos e sua elaboração mental abstrata. O progresso da ciência em todos os tempos se acelera com aplicação da pesquisa abstrata. O psicólogo Jean Piaget(1896-1980) confirmou experimentalmente que as crianças só conseguem pensar abstratamente após cerca da idade de sete anos.
O filósofo francês Auguste Comte já tinha identificado o mesmo nos povos primitivos e nas crianças. Somente quando os povos evoluem da feitiçaria ou feiticismo, da magia ou animismo é que conseguem pensar no politeísmo em deuses, que são conceitos abstratos, dotados de propriedades superiores, de enorme poder. Se assim é, somente povos politeístas poderiam chegar a desenvolver a abstração científica. Os politeístas da Teocracia Oriental, embora capazes de criar seus deuses abstratos, não conseguiram criar a ciência abstrata talvez por ser a casta sacerdotal secreta um poder político totalitário impedindo a iniciativa da livre pesquisa dos pensadores laicos.
A primeira semana do mês de Arquimedes consagra os sábios que pesquisaram a medicina e os conhecimentos biológicos preliminares que resultaram dessas pesquisas. A presidência da semana é de Hipócrates.  Ali figuram os nomes dos principais anatomistas da universidade de Alexandria no Egito e daqueles entre os autores árabes que escreveram sobre medicina.

Ver o Quadro 0325 01 B do mês de Arquimedes  Ciência Antiga. O quadro mostra os grandes homens representantes da criação dos fundamentos do conhecimento biológico na antiguidade.

NOSSOS ANTEPASSADOS INESQUECÍVEIS
Maiores figuras humanas na antiguidade
que prepararam a civilização do futuro.

FELIZ
QUEM HONRA SEUS ANTEPASSADOS



HIPÓCRATES nasceu na ilha de Kos, uma das Esporades, perto da costa da Carie, na Grécia. Ele pertencia a uma família cujos membros praticavam a arte médica durante várias gerações, como sacerdotes do deus Asclepios. Viajou muito e residiu algum tempo na corte do rei Perdiccas da Macedônia. Seu avô tinha também o nome de Hipócrates e também vários de seus descendentes. Essa é a razão por atribuir a ele muitas obras que não são de sua autoria. Mas o julgamento unânime dos estudiosos lhe dá merecida fama.
Na Grécia, como em todos os lugares, a medicina teve uma origem religiosa. Uma casta de sacerdotes-médicos que descendiam de um herói da lenda ou de um deus Asclepios, em latim Esculapius, estava espalhada nas ilhas e no continente grego durante os séculos que vão entre Homero e Ésquilo. Os templos de Esculápio eram os hospitais da Grécia. Áreas especiais serviam ao parto das mulheres grávidas e de lugar para o tratamento dos doentes. O tratamento consistia no uso de remédios físicos e morais. Poções simples para ação sobre a pele e músculos eram combinados com o jejum e a oração. Nas religiões os médicos eram os sacerdotes, como os curandeiros da feitiçaria.
Herdeiro duma grande massa de conhecimentos teocráticos antigos, Hipócrates foi levado a empregar o novo espírito positivo que, depois de um século, impregnou todo o mundo grego: o espírito de observação sem preconceitos e de pesquisa exata das leis naturais e dos fatos gerais aplicados aos fenômenos da doença. É significativo que ele renegue a doutrina de que uma certa doença seja especialmente de origem divina. Ele afirma que nenhuma é mais divina que a outra. Todas o são e todas são sujeitas à sua própria lei de desenvolvimento.
A glória de Hipócrates foi escapar do círculo vicioso da falta de uma teoria para guiar a pesquisa que deve gerar a teoria. Ele seguiu uma longa série de observações delicadas e bem conduzidas, guiadas por duas idéias profundamente positivas: a sinergia ou concurso das funções e a ação do meio sobre o organismo.
Hipócrates procurava estabelecer a prognose, isto é, uma previsão do curso que a doença sempre acontece. O seu Tratado do prognóstico mostra essa intenção de prever para agir. O médico, diz ele, que prevê o caminho da doença a partir da condição presente do doente dirige melhor a cura e esse praticante merece confiança. Essa confiança era de uma importância fundamental, porque, de acordo com o primeiro de seus aforismas, “Não é suficiente ao médico fazer o que ele julga bom, é necessário que ele o faça de modo que o paciente, o enfermeiro e todas as circunstâncias ambientes possam colaborar com ele”.
Todo esse livro protesta contra o excesso de especialismo. Ele coloca a prognose antes do diagnóstico. É de grande importância de ter presente ao espírito de unidade essencial da doença, de medir sua intensidade, de ter em conta a constituição pessoal e as circunstâncias ambientes. Foi o que Hipócrates ensinou aos médicos.
Hipócrates deixou uma obra-prima sobre o meio ambiente: seu Tratado do ar, da água e dos lugares. É um estudo do clima no sentido mais extenso, contendo um conjunto de considerável de belas e sábias observações sobre o ar e os ventos dominantes, sobre a luz do sol, água, solo; sobre a influência das estações e da vegetação dominante. Contém observações sobre as tendências físicas dos diferentes povos da Europa e da Ásia, que uma vez formadas por essas influências, se perpetuam por hereditariedade.
Os livros atribuídos a Hipócrates são os Aforismas, os Prognósticos, Epidêmicas, Do regime na doença aguda, o tratado sobre O ar, a água e os lugares e um livro sobre os Ferimentos na cabeça. Quanto ao Juramento Hipocrático exigido a todos os membros do corpo médico, há consenso em lhe atribuir a autoria. Para ser admitido o candidato jurava por Apolo e por Esculápio de dar um respeito filial a seu mestre; de dividir seu saber com seus companheiros; de ter na casa do doente uma conduta irrepreensível e de jamais divulgar um segredo.
Hipócrates, por sua ampla concepção dos fenômenos mórbidos, não só fundou a arte médica, então livrando-a dos obstáculos religiosos teocráticos e destinando-a para ter um papel tão importante na civilização ocidental. Além disso, preparou o caminho para o estudo científico da vida que logo seria fundado por Aristóteles e continuado pela grande escola de Alexandria em sua Biblioteca.


AMANHÃ: A memorável Geometria de Euclides.


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