22 DE JUNHO. Villiers: O cavaleiro infiel admirado até por seus inimigos.
VILLIERS
Philippe de Villiers de l’Isle-Adam
(nasceu no ano 1464 da nossa era, em Beauvais, França; morreu em 1534 na ilha de Malta)
VALOROSO ADMIRADO E VENERADO NOBRE CAVALEIRO DAS CRUZADAS
Quais foram as grandes contribuições da Civilização Feudal para o progresso da sociedade humana?
Duas forças coordenadas caracterizam a história da Idade Média: uma católica ou religiosa e a outra feudal ou cavalheiresca. De sua atuação resultou:
1. Purificar e disciplinar as mais fortes paixões do homem, sobretudo a desumanidade, o orgulho e os apetites sensuais.
2. Teve como conseqüência elevar a condição da mulher.
3. Fez a proteção do fraco, honrar a nobreza do caráter, elevar a natureza humana.
4. Suprimiu a guerra universal e transformou a guerra de conquista em guerra defensiva.
5. Estabeleceu os governos verdadeiramente locais com o acordo do dever recíproco, em vez da submissão a um império centralizado.
6. Suprimiu a escravidão geral na população e fundou o trabalho livre.
Os três primeiros resultados foram principalmente tarefa da Igreja Católica, com a Cavalaria participando na elevação das mulheres.
Os três últimos progressos foram principalmente obra do feudalismo junto com a religião.
Foram nove séculos de avanços, desde cerca dos anos 400 até 1300. Com muita confusão, crueldade e crimes; mas também com um heroísmo e uma dedicação admiráveis.
As duas primeiras semanas estão representadas por militares. Na primeira o tipo principal é o rei Alfredo o Grande, no domingo que encerra a semana.
Philippe de Villiers, duma família francesa de l’Ile de France, era neto do famoso marechal de mesmo nome. Nasceu em Beauvais em 1464. Pertencendo à Ordem dos Cavaleiros de S. João, ele cumpriu uma sucessão de tarefas e de deveres onde provou as mais altas qualidades como general, como político e como diplomata.
Ele obteve uma brilhante vitória sobre o sultão do Egito em 1510, aos 46 anos e foi o inspetor de todos os priorados da sua Ordem na França.
A ilha de Rodes, posto avançado da Ordem de S.João, resistiu por longo tempo aos muçulmanos, como a fortaleza mais oriental da cristandade. O ataque de Maomé II, em 1480, foi repelido pelo Grão-mestre D´Aubusson. Mas, em 1521, Suleiman, o sultão chamado o Magnífico, depois de conquistar Belgrado, resolveu destruir a fortaleza que tinha por tanto tempo desafiado as forças muçulmanas.
Philippe foi nomeado Grão-Mestre da Ordem e se preparando para uma defesa desesperada, ele pediu o socorro do papa e dos príncipes da cristandade.
A ilha de Rodes foi sitiada durante o outono de 1522. A narrativa desse sítio o tornou um dos mais famosos da historia.
Philippe tinha para a defesa da ilha menos que 1.000 soldados experientes, dos quais apenas a metade era de cavaleiros. Contava ainda com cerca de 4.000 moradores das vilas em armas, com alguns camponeses e escravos.
Em junho de 1522 a frota turca chegou à ilha. Tinha 500 navios com 100 mil combatentes. Tudo que a habilidade, o valor e o desespero podia sugerir foi usado pelos sitiados. Mês após mês, os assaltos tentados pelas forças massacrantes dos turcos foram repelidos.
Os cavaleiros, os moradores, as mulheres, os padres e os escravos trabalhavam com uma indomável energia para reparar as brechas a medida que elas eram abertas.
Os turcos lançaram mais de 2 mil bombas explosivas, então uma novidade como arma de guerra. Perto do fim do mês de agosto, Suleiman em pessoa conduziu os assaltos, enquanto que muitas colunas do forte caiam no meio das crateras feitas e os muros estavam todos abalados. Mais de 15 assaltos foram feitos num só mês, mas os turcos foram repelidos em meio a uma imensa carnificina. Em dois novos assaltos, em 24 de setembro e em 29 de novembro, eles perderam 15 mil homens primeiro, e depois mais 11 mil.
Mas a ilha estava um monte de ruínas. A guarnição se reduziu a 3 mil combatentes, com somente 300 cavaleiros; já faltava munição e alimentos. E nenhum socorro chegou da Europa. Os ciúmes dos reis, as intrigas de seus rivais e as traições dos venezianos abandonaram os cavaleiros à sua própria sorte.
Suleiman ofereceu para a rendição condições honrosas, que Philippe foi forçado a aceitar em 28 de dezembro de 1522. No demorado sítio feito à ilha, os cristãos perderam 700 combatentes e os turcos 80.000.
O Grão-Mestre Philippe foi recebido com honra por Suleiman, e teve a autorização para se retirar para Roma com o que restava de seus cavaleiros.
A perda da ilha de Rodes, a chave de defesa da cristandade, junto com a visão do heroísmo de seus defensores, encheu a Europa cristã de vergonha e de simpatia. O papa Adriano VI morreu a seguir em grande desgosto. Os reis Francisco I Carlos V e Henrique VIII deploraram a grande perda. Era muito tarde.
O Imperador instalou os cavaleiros sobreviventes na ilha de Malta. Lá morreu Philippe de Villiers em 1534, com 70 anos. Sobre o túmulo, se liam as palavras: “Aqui repousa o valor vitorioso do destino”.
Philippe é um dos mais nobres tipos das cruzadas. Combina a religiosidade e a modéstia do monge com o valor, o devotamento e a intrepidez do cavaleiro errante. Calmo e recolhido, jamais vaidoso pelo sucesso, jamais abatido pelos mais formidáveis perigos ou pela aparência desesperada da situação. Ele é merecedor de admiração e veneração por sua calma, majestade e doçura. Que permanecem em meio das mais difíceis situações de sua vida.
Suleiman o Magnífico mandou fazer o elogio de Philippe de Villiers em todas as mesquitas de seu imenso império otomano: “Crentes, aprendei de um infiel como cumprir o seu dever até o ponto de ser admirado e honrado por seus inimigos”.
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